A Assombração da Casa da Colina: Porque é um clássico?






 



Decidido a provar suas idéia, Doutor Montague (homeangem a Montague R. James grande contista de terror), reúne um grupode pessoas para passar alguns dias isolados numa das mais conhecidas casas asssombradas do país. Surgem então Eleanor Vance, Luke Sanderson e Theodora, que como cobaias se prestam a essa exótica experiências cujo fim não será nada recompensador e bem trágico. Esse é o mote de um dos clássicos da literatura de terror, que reúne tanto fans qaunto desafetos, mas que continua a influenciar muitos escritores. Como obra prima de Shirley Jackson uma pacata senhora americana, A Assombração da Casa da Colina é uma das minhas primeiras recomendações.

"Nenhum organismo vivo pode existir com sanidade por longo tempo em condições de realidade absoluta; até as cotovias e os gafanhotos, pelo que alguns dizem, sonham. A casa da Colina nada sã, erguia-se solitária em frente de suas colinas, agasalhando a escuridão em suas entranhas; existia há oitenta anos e provavelmente existiria por mais outros oitenta. por dentro, as paredes continuavam eretas, os tijolos aderiam precisamente a seus vizinhos, os soalhos eram firmes e as portas se mantinham sensatamente fechadas; o silêncio cobria solidamente a madeira e a pedra da Casa da Colina, e o que por lá andasse, andava sozinho."
Com esse parágrafo simples e magistral Shirley Jackson abre as portas da Mansão de Hill House. Ele sintetiza tudo o que autora pretende quanto ao livro, isto é, falar da realidade e daquilo que achamos que é a realidade e do quanto ela é pode ser tão sólida e incômoda como a mansão de Hill House, de forma que não suportamo-la e acabamos cedendo a fantasia a ponto de fazer dela nossa realidade e a realidade da vida.


         Talvez por isso o terror do livro seja tão sutil e íntimo, como quando Théo e Eleanor correm apavoradas pelo corredor da mansão, sem saber do que realmente fogem. Nós nunca saberemos o que Theodora viu.   Talvez não tenha visto nada, talvez estivesse pregando uma peça em Eleanor ou talvez estivesse sofrendo seus próprios terrores como se fossem reais.
Aqueles que se dizem amantes de livros de terror, naturalmente gostam de filmes com a mesa tem ética, entretanto nas duas últimas décadas, digo isso tentando precisar um período que pode muito bem ser maior, os “amantes” de livros de terror esperam encontrar nas estantes das livrarias a mesma quantidade de sangue, gritaria e efeitos especiais que se vê nos filmes.
Isso indica que os roteiristas tornaram-se preguiçosos, já que deixam a história por conta dos efeitos especiais, e o público, está ficando cada vez menos exigente, para não dizer burro, pois se mostra incapaz de exercitar a imaginação valendo-se da sugestão e muito menos, presta a atenção a fio que amarra as narrativas. E assim como fazem com os filmes, fazem com os livros: voam pelas páginas procurando aquele fatídico momento, o instante derradeiro do terror e do desespero da personagem diante da sobrenaturalidade cheia de som e fúria. São capazes de pular capítulos à procura das cenas de terror insano para saber se vale à pena continuar a ler o livro.
Ainda falando de filmes, nos últimos anos em geral os filmes não têm sido bons porque desvalorizam a história por conta dos efeitos especiais, e acabam abruptamente, no pior do melhor estilo Stephen King, isto é, sem pé nem cabeça.
Um caso interessante, em contrário, é o do filme Poltergeist, que com quase trinta anos e efeitos mais que defasados ainda é impressionante e inigualável na condução da trama. Isso porque o diretor se atem à narrativa de forma que os efeitos especiais e as cenas de terror são meros adereços que completam a história para defini-la como um evento de terror. Ao invés de primar por constantes aparições tresloucadas, ele explora o sofrimento da família e a força do seu amor diante de uma mal que está além das capacidades humanas. Isso é o que faz de Poltergeist um clássico.
E até seu livro, escrito mais tarde por James Kahn, seguindo o roteiro do filme, também é excelente. Tão bom que parece que o filme é que foi feito à partir do livro e não o contrário. Kahn consegue dar ao livro a mesma áurea clássica que encontramos em livros como Drácula, Frankenstein ou Rei de Amarelo. O livro nos fascina, e mais que terror, sentimos estar participando de uma experiência única de paranormalidade.           
           A necessidade de ver sangue e gritaria tornou-se um problema tão grande, que hoje as pessoas lêem Drácula e acham o final decepcionante, como se fosse um anti-clímax. Reclamam que o Rei de Amarelo é sutil e fragmentado demais. Também há o caso de A Mandrágora de Hans Ewers, que dizem muitos, parecer um romance francês de pornografia de luxo. Outro livro que também sofre com a falta de inteligência dos leitores de hoje é O Grande Deus Pan de Arthur Machen, obra única por mesclar diabolismo, violência sexual e neurociência. É um clássico que fascina justamente pelo que esconde de nós. O Grande Deus Pan permite-nos muito mais imaginar em cima do que o autor escreve do que mostrar. Dessa forma ficamos apavorados muito mais com a nossa imaginação do que com o que o livro propõe e isso é espantoso e delicioso.
           Quanto ao livro da Sra. Jackson ele é incontestável em perfeição, porque não segue a fórmula comum de "som e fúria" que a indústria de entretenimento moderna propõem! É um romance sutil, que recorda muito a novela A Outra Volta do Parafuso de Henry James e o famoso e impactante conto O Papel de Parede Amarelo de
Charlotte Perkins Gilman, duas obras que lidam muito mais com o interior assombroso das personagens do que com o mundo assombroso que está a sua volta. O mundo apenas reflete os terrores ocultos na alma dos personagens. Por isso as duas obras e a novela de S. Jackson dividem a opinião dos leitores de vido a sutileza de seu terror e a originalidade da trama. Em Hill House a autora quer que imaginemos, quer que compremos a história assim como Eleanor o faz. Ela começa a sentir que seu destino está ligado ao da casa. E essa é uma das formas da Sra. Jackson atingir seu êxito, nos fazendo crer que sim, há sim uma ligação entre Eleanor e a casa. Ou talvez não, meu deus, o que aquela casa esconde??? Ou então, o que Eleanor guarda dos outros e de si mesma?
Outro êxito é fazer pensar que a casa é uma entidade com consciência própria, quando insiste de evoca-la pelo nome: A Casa da Colina, como se fala-se de uma pessoa. O terror aqui é todo subjetivo. Da mesma forma a Sra. Jackson coloca diante de do leitor, personagens que não convivem bem com as regras sociais, mas que dentro de um espaço com A Casa da Colina, podem ser elas mesmas sem recriminações. A casa da Colina é um local que também foge ao padrão comum daquilo que é normal: é exótica, imensa, com decoração diversa em cada cômodo, possui salas que nunca foram abertas, seus ângulos são absurdos e até a sua história é estranha. Por isso temos a bissexual Théo, Luke o herdeiro explorador, Montague o médico louco com teorias nada ortodoxas, e Eleanor a solteirona infeliz incapaz de cuidar de si mesma.
O leitor deve se perguntar: o que Sra. Jackson quer que pensemos afinal? Esse livro é uma novela de drama psicológico ou um livro de terror? Mas não é isso que a vida é muitas vezes, um drama psicológico de terror? Quantos cuja imaginação é fértil, já não se assustaram com uma sombra na rua ou um estalo de um copo de vidro dentro do armário, e foram incapazes de pensar que uma ilusão de ótica ou a dilatação por meio do calor seriam as fontes de seus fantasmas? Em A Assombração da Casa da Colina, será que tudo não é mero acaso, história de superstição? Ou será a casa uma entidade viva de verdade? Não serão as pessoas desajustadas que habitando nela, e livres do julgamento social, revelam suas neuroses e o lado obscuro?
Isso faz do livro de Shirley Jackson um clássico universal, não apenas do terror, como acontece com alguns livros, mas um clássico da literatura, já que vai muito além de sombras murmurantes e fantasmas que arrastam correntes.
Para aqueles que desejam visitar A casa da Colina, saibam que a autora não entregará tudo pronto e revelado, haverá sempre um mistério, e teremos de resolver sozinhos, cada leitor fará suas próprias considerações e terá que se conformar com o fato de que sua idéia talvez seja errada. Há no livro mais do que terror, é uma novela psicológica sobre neuroses, sobre nossas próprias loucuras e superstições.
Vale procurar também o conto Haunted of Haunteds de Edward Bulwer Lytton que disputa com a obra de Jackson o título de melhor história de casa assombrada. Eu já li e posso dizer que sim chega a ser tão mórbido quanto.

          A obra maior de S. Jackson sempre dividirá opiniões, e esse é o segredo do seu sucesso, pois, pudéssemos chegar a defini-lo de uma vez, seria posto na estante e nunca mais reeditado, e esse é o segredo de um livro clássico: nunca dizer tudo, e sempre provocar opiniões. Enfim devemos aprender que algo realmente bom demora pra ser absorvido, portanto, este é daqueles livros que devemos ler pelo menos 3 vezes para descobrir coisas que deixamos passar despercebidas.

Comentários

  1. Ótima resenha!
    Onde encontro o livro pra comprar?

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  2. Infelizmente Gustavo este livro está há mais de duas décadas fora de edição no Brasil, só pode encontrá-lo nos sebos, por um valor salgado. Fora essa opção, pode achá-lo em espanhol, além de outras obras da autora, como o conto A Loteria (La Lotería) e a novela Sempre Vivemos no Castelo (Siempre Hemos Vivido en el Castillo). Saudações!

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